Crónica: Toma que é "Democrático"

Não querendo ser demasiado agourento, aclamo de boa fé que o Governo nos anda a tentar fechar os olhos. Mas eu estou a falar a sério, porque os meus estão mesmo a querer fechar-se, o que é demasiado preocupante. No “próspero” e moderno século XXI quem se atrever a semicerrar um olho sequer por demasiado tempo arrisca-se a abri-lo já só de pantufas calçadas. E eu não estou para ser assaltado só porque o Governo me quer obrigar a fechar os olhos. A ideia é de si aterrorizadora pois como não tenho pantufas em casa eventualmente teria que ficar descalço e ao relento no meio deste frio de Inverno. Já telefonei para o Seguro Directo e tudo para ver se me dão alguma compensação por danos psicológicos, mas depois de ouvir a tabela de preços concluí que os homens se enganaram a fazer o slogan do anúncio da TV: em vez de “directo para o seu bolso” estamos perante uma situação clara de “directos ao seu bolso”. Lá vontade disso têm eles, pelo menos.

Desta feita, encontro-me sozinho e quase sem ver nada. Nem para mim mesmo sou boa companhia, ora bolas. E tudo por culpa do Governo que nos anda a fechar os olhos! Ah, espera lá, porque acho que afinal sou eu que tenho sono… Realmente já é tarde, e eu como bom cidadão português em pleno mandato de Sócrates, deixei de ser capaz de distinguir o dia da noite, uma vez que em ambos não faço outra coisa a não ser trabalhar no duro. Com a evolução do emprego em Portugal, somos presenteados com um passado não muito distante (cerca de um século atrás) onde as mulheres pura e simplesmente não trabalhavam. Até há bem pouco tempo, sim senhor, já tanto o homem como a mulher estavam perfeitamente inseridos no mercado de trabalho de forma imparcial e justa, segundo o horário “tradicional” 9:00h-19:00h. Num futuro próximo, não só ambos os sexos terão de continuar a fazer pela vida, como também terão de prolongar as tarefas do escritório noite dentro, ao bom estilo do “Tempo Extra”. Ou seja, este tipo de progressão parece encaminhar-nos irremediavelmente para um cada vez maior número de horas de trabalho e de esforço.

Agora, pelo menos, já ficamos todos a saber de que é que os políticos estão a falar quando nas entrevistas afirmam que o objectivo passa por “dar mais” aos portugueses. Referem-se, portanto, a dar mais carga de serviço para cima dos nossos ombros. Não admira que ninguém lhes agradeça a oferenda. É o caso típico daqueles que tanto querem dar que acabam mesmo por retirar ainda mais. Mas siga para frente com a mesma política, porque ninguém é capaz de ver a insatisfação dos cidadãos. É como diz o outro: “E o cego sou eu!?”

Parece que não…